Gersely Sales
Ferdinand
Denis, autor do resumo da História Literária do Brasil que é considerado um dos
textos mais importante para o desenvolvimento da consciência
nacional da literatura brasileira,
analisa alguns pontos importantes ao londo de seus escritos, como: divisão
por nacionalidades (lusitano e brasileiro), caráter nacional, manifestação da
emoção alçados a critérios de avaliação e o possível interesse do público
francês.
O autor compõe sua obra a partir da
divisão em nacionalidades distintas, ao qual foi a primeira pessoa a separar a
literatura brasileira da portuguesa, assim ficando em lusitano e brasileiro, atribuindo
à literatura do Brasil uma independência em relação à literatura da então
Metrópole, cada um ordenado segundo suas cronologias.
Referente a cor local, ela é
responsável por atestar caráter nacional, e sua manifestação traz à qualidade,
resgatando obras. E quando a cor do local não pode ser identificada? Como
proceder? Ferdinand Denis dá um direcionamento para isso: a manifestação
espontânea de emoção por parte do criador.
O intuito do livro de Denis ter sido
redigido, foi para orientar o público francês na direção da literatura
portuguesa, e assim pode ser classificado. O Résumé, contudo, não alcançou o
público desejado e inclusive recebeu muitas críticas; seus principais leitores
situavam-se no Brasil, onde o livro obteve alguma repercussão.
Em Machado de Assis, em seu artigo
intitulado Instinto de Nacionalidade publicado na revista O Novo Mundo (1873),
descreve considerações sobre o romance, a poesia, o teatro e a língua,
colocando a literatura brasileira no âmbito da cultura, trazendo uma visão dos
gêneros literários. Com isso, tenta buscar e criar uma independência
literária que vai chegar a ocorrer, na realidade, ao decorrer dos anos:
“Esta outra independência não tem Sete de Setembro nem Canto do Ipiranga; não
se fará num dia, mas pausadamente, para sair mais duradoura; não será obra de
uma geração, nem de duas; muitas trabalharão para ela até perfazê-la de todo.”
(ASSIS, 1957)
Segue falando das cores do
país como um sintoma de vitalidade e abandono do futuro. A literatura
não é nacional apenas por usar como tema aspectos da natureza brasileira, sendo
que esse caráter também é importante e está ligado a um sentimento íntimo que
torne o autor “homem do seu tempo e do seu país” (ASSIS, 1957), mas destacar
assuntos que a região específica ofereça, contanto que não a empobreça.
Machado aborta qualquer tipo de
pensamento de que a civilização brasileira recebeu influência dos índios
em nossa personalidade literária, mas considera a tradição portuguesa como
parte constituinte de nossa literatura.
Quando
estudamos Sílvio Romero em sua História da Literatura Brasileira (1888), vemos
que ele adota critérios filosóficos para explicar a expressão literária em suas
manifestações políticas, econômicas, populares, etc., tornando literatura como
sinônimo de cultura.
Busca tratar de notar as relações do
Brasil com a humanidade em geral, tendo grande influência no darwinismo,
evolucionismo, cientificismo e determinismo, considerando três linhas
fundamentais: a literatura como expressão direta de fatores naturais
e sociais, o progresso da humanidade como e o caráter genético da crítica
literária. O autor tem um posicionamento onde diz que o lado
nacional das literaturas está vinculado ao princípio da hereditariedade, está
vinculada ao princípio da adaptação,
seguindo os critérios da crítica darwinista.
Segundo
Romero para se explicar como se dá a formação de uma nacionalidade é necessário
abordar três princípios básicos: meio, raça, cultura, assim como sua literatura. Ele
vai nortear nossa compreensão sobre a história do Brasil:
“A história do Brasil, como deve ser hoje
compreendida, não é, conforme se julgava antigamente e era repetida pelos
entusiastas lusos, a história exclusiva dos portugueses na América. Não é
também, como quis de passagem supor o romanticismo, a história dos tupis, ou,
segundo o sonho de alguns representantes do africanismo entre nós, a dos negros
em o Novo Mundo. É antes a história da formação de um tipo novo pela ação de
cinco fatores, formação sextiária, em que predomina a mestiçagem. Todo
brasileiro é um mestiço, quando não no sangue, nas idéias. Os operários deste
fato inicial tem sido: o negro, o índio, o meio físico e a imitação
estrangeira.” (ROMERO, 1980)
Dá
ainda considerações sobre as raças: “Consideramos o índio puro como estranho à
nossa vida presente. O mesmo pensamos a respeito do negro da costa. O
português, o emboaba, o reinol, está nas mesmíssimas condições”. Onde nós, que
não somos puros, mas sim mestições, somos racialmente inferiores já que a mestiçagem
pega o pior de cada raça.
A
partir do que vimos até então, podemos fazer um comparativo com os três autores
em alguns aspectos que considerei relevantes. Enquanto Machado de Assis
desconsidera qualquer influencia dos índios em nossa literatura em construção,
Ferdinand Denis considera a questão do índio em nossa na construção da
literatura brasileira elevando-o a um lugar de destaque e observando no índio os seus costumes e
as tradições a serem eleitas pela literatura brasileira. Na época, para ser considerado
literatura, tinha que haver uma certa historicidade, ou seja, construída a
partir de resgates históricos. Denis (1978, p. 36) defende o índio afirmando
que:
“A sua [da literatura
brasileira] idade das fábulas misteriosas e poéticas serão os séculos em que
viveram os povos que exterminamos e que nos surpreendem por sua coragem, e que
retemperam talvez as nações saídas do Velho Mundo: a recordação de sua grandeza
selvagem cumulará a alma de orgulho, suas crenças religiosas animarão os desertos; os cantos poéticos,
conservados por algumas nações, embelezarão as florestas.”
Com
isso querendo resgatar a importância do índio na literatura e defender a
originalidade da obra (DENIS,
1978, p. 47):
“Os americanos não têm feito
sempre sentir em suas produções, o influxo da natureza que os inspirou; antes
da Independência, parecia até pretenderem olvidar a própria pátria para pedir à
Europa um quinhão da sua glória. Agora, que têm necessidade de fundar sua
literatura, repito: ela deve ter caráter original.”
No que diz
respeito a questão racial em Romero, ele critica o índio e o indianismo e o
considera a sua influência desastrosa na formação nacional, por terem sido
selvagens e barbarismos.
Machado detalha
sobre as cores do país, e isso não se resume apenas a algo superficial, por
exemplo, aquele que se limita a cantar coisas típicas ou exclusivas de sua
terra e que só reconhece o espírito nacional nas obras que tratam de assuntos
locais. Onde é de
responsabilidade do escritor ter um sentimento íntimo, que o torne homem do seu
tempo e do seu país, mesmo que trate de assuntos mais remotos no tempo e lugar.
Então Machado de Assis vem considerar os traços culturais da sua formação.
Denis vem nos levar a considerar que o que define uma literatura enquanto
fenômeno de cultura é, a língua.
ASSIS, Machado. Instinto de
Nacionalidade. In:____. Crítica
Literária. São Paulo: Editora Brasileira Ltda, 1957. p.129-149.
DENIS, Ferdinand. Resumo da História literária do Brasil.
In:____.
Historiadores e críticos do
Romantismo. São Paulo: USP, 1978.
ROMERO, Silvio. História da literatura brasileira. 7. ed . Rio de Janeiro: J.
Olimpio; Brasília: INL, 1980.