sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Análise comparativa entre Ferdinand Denis, Machado de Assis e Sílvio Romero

Gersely Sales

Ferdinand Denis, autor do resumo da História Literária do Brasil que é considerado um dos textos mais importante para o desenvolvimento da consciência nacional da literatura brasileira, analisa alguns pontos importantes ao londo de seus escritos, como: divisão por nacionalidades (lusitano e brasileiro), caráter nacional, manifestação da emoção alçados a critérios de avaliação e o possível interesse do público francês.
O autor compõe sua obra a partir da divisão em nacionalidades distintas, ao qual foi a primeira pessoa a separar a literatura brasileira da portuguesa, assim ficando em lusitano e brasileiro, atribuindo à literatura do Brasil uma independência em relação à literatura da então Metrópole, cada um ordenado segundo suas cronologias.
Referente a cor local, ela é responsável por atestar caráter nacional, e sua manifestação traz à qualidade, resgatando obras. E quando a cor do local não pode ser identificada? Como proceder? Ferdinand Denis dá um direcionamento para isso: a manifestação espontânea de emoção por parte do criador.
O intuito do livro de Denis ter sido redigido, foi para orientar o público francês na direção da literatura portuguesa, e assim pode ser classificado. O Résumé, contudo, não alcançou o público desejado e inclusive recebeu muitas críticas; seus principais leitores situavam-se no Brasil, onde o livro obteve alguma repercussão.
Em Machado de Assis, em seu artigo intitulado Instinto de Nacionalidade publicado na revista O Novo Mundo (1873), descreve considerações sobre o romance, a poesia, o teatro e a língua, colocando a literatura brasileira no âmbito da cultura, trazendo uma visão dos gêneros literários. Com isso, tenta buscar e criar uma independência literária que vai chegar a ocorrer, na realidade, ao decorrer dos anos: “Esta outra independência não tem Sete de Setembro nem Canto do Ipiranga; não se fará num dia, mas pausadamente, para sair mais duradoura; não será obra de uma geração, nem de duas; muitas trabalharão para ela até perfazê-la de todo.” (ASSIS, 1957)
Segue falando das cores do país como um sintoma de vitalidade e abandono do futuro. A literatura não é nacional apenas por usar como tema aspectos da natureza brasileira, sendo que esse caráter também é importante e está ligado a um sentimento íntimo que torne o autor “homem do seu tempo e do seu país” (ASSIS, 1957), mas destacar assuntos que a região específica ofereça, contanto que não a empobreça.
Machado aborta qualquer tipo de pensamento de que a civilização brasileira recebeu influência dos índios em nossa personalidade literária, mas considera a tradição portuguesa como parte constituinte de nossa literatura.
Quando estudamos Sílvio Romero em sua História da Literatura Brasileira (1888), vemos que ele adota critérios filosóficos para explicar a expressão literária em suas manifestações políticas, econômicas, populares, etc., tornando literatura como sinônimo de cultura.
Busca tratar de notar as relações do Brasil com a humanidade em geral, tendo grande influência no darwinismo, evolucionismo, cientificismo e determinismo, considerando três linhas fundamentais: a literatura como expressão direta de fatores naturais e sociais, o progresso da humanidade como e o caráter genético da crítica literária. O autor tem um posicionamento onde diz que o lado nacional das literaturas está vinculado ao princípio da hereditariedade, está vinculada ao princípio da adaptação,  seguindo os critérios da crítica darwinista.
Segundo Romero para se explicar como se dá a formação de uma nacionalidade é necessário abordar três princípios básicos: meio, raça, cultura, assim como sua literatura. Ele vai nortear nossa compreensão sobre a história do Brasil:

“A história do Brasil, como deve ser hoje compreendida, não é, conforme se julgava antigamente e era repetida pelos entusiastas lusos, a história exclusiva dos portugueses na América. Não é também, como quis de passagem supor o romanticismo, a história dos tupis, ou, segundo o sonho de alguns representantes do africanismo entre nós, a dos negros em o Novo Mundo. É antes a história da formação de um tipo novo pela ação de cinco fatores, formação sextiária, em que predomina a mestiçagem. Todo brasileiro é um mestiço, quando não no sangue, nas idéias. Os operários deste fato inicial tem sido: o negro, o índio, o meio físico e a imitação estrangeira.” (ROMERO, 1980)

Dá ainda considerações sobre as raças: “Consideramos o índio puro como estranho à nossa vida presente. O mesmo pensamos a respeito do negro da costa. O português, o emboaba, o reinol, está nas mesmíssimas condições”. Onde nós, que não somos puros, mas sim mestições, somos racialmente inferiores já que a mestiçagem pega o pior de cada raça.
A partir do que vimos até então, podemos fazer um comparativo com os três autores em alguns aspectos que considerei relevantes. Enquanto Machado de Assis desconsidera qualquer influencia dos índios em nossa literatura em construção, Ferdinand Denis considera a questão do índio em nossa na construção da literatura brasileira elevando-o a um lugar de destaque e observando no índio os seus costumes e as tradições a serem eleitas pela literatura brasileira. Na época, para ser considerado literatura, tinha que haver uma certa historicidade, ou seja, construída a partir de resgates históricos. Denis (1978, p. 36) defende o índio afirmando que:

“A sua [da literatura brasileira] idade das fábulas misteriosas e poéticas serão os séculos em que viveram os povos que exterminamos e que nos surpreendem por sua coragem, e que retemperam talvez as nações saídas do Velho Mundo: a recordação de sua grandeza selvagem cumulará a alma de orgulho, suas crenças religiosas animarão os desertos; os cantos poéticos, conservados por algumas nações, embelezarão as florestas.”
   
Com isso querendo resgatar a importância do índio na literatura e defender a originalidade da obra (DENIS, 1978, p. 47):
 “Os americanos não têm feito sempre sentir em suas produções, o influxo da natureza que os inspirou; antes da Independência, parecia até pretenderem olvidar a própria pátria para pedir à Europa um quinhão da sua glória. Agora, que têm necessidade de fundar sua literatura, repito: ela deve ter caráter original.”

No que diz respeito a questão racial em Romero, ele critica o índio e o indianismo e o considera a sua influência desastrosa na formação nacional, por terem sido selvagens e barbarismos.
Machado detalha sobre as cores do país, e isso não se resume apenas a algo superficial, por exemplo, aquele que se limita a cantar coisas típicas ou exclusivas de sua terra e que só reconhece o espírito nacional nas obras que tratam de assuntos locais. Onde é de responsabilidade do escritor ter um sentimento íntimo, que o torne homem do seu tempo e do seu país, mesmo que trate de assuntos mais remotos no tempo e lugar. Então Machado de Assis vem considerar os traços culturais da sua formação. Denis vem nos levar a considerar que o que define uma literatura enquanto fenômeno de cultura é, a língua.
        
 Referências Bibliográficas

ASSIS, Machado. Instinto de Nacionalidade. In:____. Crítica Literária. São Paulo: Editora Brasileira Ltda, 1957. p.129-149.
                                                                     
DENIS, Ferdinand. Resumo da História literária do Brasil. In:____. Historiadores e críticos do Romantismo. São Paulo: USP, 1978.

ROMERO, Silvio. História da literatura brasileira. 7. ed . Rio de Janeiro: J. Olimpio; Brasília: INL, 1980.

Análise comparativa entre Hermilo Borba Filho (TEP e TPN), Gilberto Freyre (Movimento Regionalista) e Ariano Suassuna (Movimento Armorial)

Gersely Sales

1-           Hermilo Borba Filho (TEP e TPN)

            O TEP (Teatro de estudantes de Pernambuco) de 1945 tendo por diretor Hermilo Borba Filho é um teatro de amadores e estudantes para o povo. A partir de 1946, Hermilo reformulou os objetivos do TEP adequando para a realidade atual do teatro do Nordeste, ligando a cultura da região e levando o teatro de fato para o povo: “sendo o teatro uma arte do povo, deve aproximar-se mais dos habitantes do subúrbio, da população que não pode pagar uma entrada cara nas casas de espetáculo.” (Hermilo Borba Filho, 1981). O Teatro do Estudante é uma luta contra os entraves: mercantilização, aburguesamento da arte, mecanização do movimento dos atores (artificialismo).
            O intuito era fazer um teatro genuinamente brasileiro, de assuntos nacionais, buscando essas temáticas com o próprio povo e isso o Nordeste tinha em vastidão: o cangaceirismo, a escravidão açucareira, o Zumbi dos Palmares, etc.
            O TPN (Teatro Popular do Nordeste) de 1960, também liderado por Hermilo Borba Filho, busca por uma forma mais nordestina de interpretar e de encenar, oferecendo ao público recifense um teatro profissional pautado pela qualidade artística. Vai de encontro com o teatro acadêmico, esclerosado que não representa a realidade. Iniciou o teatro ambulante, montou uma peça nordestina para mamulengo, Ariano teve pela primeira vez uma peça encenada, realizou um movimento artístico completo mesmo sem condições financeiras. 

 2-           Gilberto Freyre (Movimento Regionalista)

            O Movimento Regionalista de 1926 é um inventário redigido por Gilberto Freyre através do I Congresso Brasileiro de Regionalismo na cidade do Recife, que só veio ser publicado em 1951. Caracteriza-se pela valorização das particularidades do Nordeste como pontos originais da cultura e da sociedade brasileira. Com o objetivo de defender e preservar as tradições tipicamente rurais e nordestinas para que a identidade cultural não se perdesse. A questão está em estabelecer um limite entre o que se produz correspondendo à realidade local daquela região/país, e o que apenas se imita das originais dos centros culturais capitalistas, para isso era necessário fazer uma coleta dos dados de nossas tradições e expressões culturais, tentando inserir o regional no universal.
            Para que haja uma unidade nacional, será necessário um federalismo regionalista com interesses, sentimentos e ideias entre as regiões brasileiras. E dessas regiões, o Nordeste é privilegiado por sua autonomia: “mais do que qualquer outra região, sem excluir a Amazônia, teve o Nordeste o privilégio de viver no isolamento, onde cresceu sua originalidade.” (COUTINHO apud MOTA).

3-           Ariano Suassuna (Movimento Armorial)

            O Movimento Armorial surge sob a direção de Ariano Suassuna, artistas e escritores do Nordeste do Brasil em 1970. Com o objetivo de valorizar a cultura do Nordeste, fazendo uso da “arte brasileira erudita a partir das raízes populares da nossa cultura”. O Movimento dá lugar à pintura, à música, à literatura, à cerâmica, à dança, à escultura, à tapeçaria, à arquitetura, ao teatro, à gravura e ao cinema.
            A importância do Movimento Armorial é dada principalmente nos folhetos do romanceiro popular nordestino (Literatura de Cordel) os quais reúnem três artes importantes: narrativas de poesia, a xilogravura nas capas e a música no canto de seus versos acompanhada por rabeca ou viola. Mas também é dada a devida importância aos espetáculos populares do Nordeste ao ar livre que possuem em si características muito peculiares e detalhistas, assim como ao mamulengo nordestino que além da dramaturgia, tem um jeito muito brasileiro de encenação e representação.

4-           Semelhanças entre Gilberto Freyre, Hermilo Borba Filho e Ariano Suassuna

ü    Gilberto Freyre, com seu Regionalismo, reconhece e exerce uma grande influência intelectual sobre os fundadores do TEP e do TPN de Hermilo Borba Filho considerando a modernidade, tradição e região.
ü    O TEP e o TPN se assemelham em seus objetivos na questão da necessidade de levar um teatro de qualidade aos menos favorecidos.
ü    O Manifesto Regionalista de Gilberto Freyre retrata as alterações das estruturas sociais e econômicas, responsáveis pelas formações culturais, inclusive mencionadas no TEP e TPN.
Freyre entende por regionalismo a junção de região e tradição, muito utilizado no TPN de Hermilo Borba Filho, que procurava dramatizar temas da vivência (tradição), mas considerando o tempo.
ü    Com a citação abaixo, vemos que Hermilo defende o mesmo pensamento de Freyre com a questão de a crença no regional ir para o âmbito nacional:

“Nosso teatro é do Nordeste: isso não significa que mantenhamos um exclusivismo regional. É mantendo-nos fiéis à nossa comunidade nordestina que seremos fiéis à nossa grande pátria, unindo-nos a todos aqueles que procuram a mesma coisa em suas diversas regiões; e é mantendo-nos fiéis ao Brasil que poderemos estender, não servilmente, mas fraternalmente, a mão às grandes vozes espirituais que não sentem necessidade de trair a liberdade para servir a justiça.” (Hermilo Borba Filho, 1981)

ü    O Movimento Armorial tem por interesse construir uma arte nacional baseada nas culturas populares (assemelhando-se a Hermilo e a Freyre).
ü    No que diz respeito às questões sociais e políticas, Freyre e Suassuna se assemelham em suas produções literárias.
ü    O TEP e o Movimento Armorial defendem a arte tradicional “genuinamente brasileira”.
ü    Em Suassuna vemos as referências a Gilberto Freyre como norte de uma tradição de pensamento com um valor às culturas populares nordestinas em uma construção de uma identidade nacional, inspirado pela ideia de brasilidade nordestina.

5-           Diferenças entre Gilberto Freyre, Hermilo Borba Filho e Ariano Suassuna

ü    O TEP e o TPN divergem-se em sua atuação, visto que o Teatro de estudantes de Pernambuco é um teatro realizado por amadores e estudantes, enquanto o Teatro Popular do Nordeste já é algo mais aperfeiçoado e profissional, com um engajamento e grande qualidade artística.
ü    O TEP traz um estímulo de uma dramaturgia com os temas e mitos de uma cultura local, já o TPN se interessa de fato por manifestações dramáticas e mais espontâneas do nordestino (bumba-meu-boi, mamulengo).
ü    O Manifesto Regionalista e o TEP diferenciam no foco de uma cultura “genuinamente brasileira”. Enquanto o segundo busca essa cultura particular do Brasil, o primeiro busca uma “identidade nacional”.
ü    O TPN é um teatro burguês, o Manifesto Regionalista é um teatro para o Nordeste.
ü    No seu Manifesto Regionalista, Freyre reprovou o distanciamento de grande parcela da burguesia local em relação às coisas que pudessem ser associadas aos valores do povo. Já Hermilo defendia a ideia de que a saída para o teatro local seria uma tentativa de inserção nas tradições universais.
ü    Diferente dos regionalistas, Suassuna constrói seu Nordeste numa perspectiva mais ficcional, tomando a linguagem como o lugar de recriação do mundo. Criando um sertão mitológico de tradição ibérica subsistente na região dando um caráter modernista peculiar reelaborando tradições.
  
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

______. 1981. Manifesto de lançamento do Teatro Popular do Nordeste, escrito por Hermilo Borba Filho [e Ariano Suassuna]. In: CIRANO, Marcos. et al. (org). Hermilo Vivo — vida e obra de Hermilo Borba Filho. Recife: Comunicarte.

VIEIRA, Anco Márcio Tenório . Enganos e controvérsias aq propósito de um conceito: Regionalismo. In: Roberto Motta; Marcionila Fernandes. (Org.). Gilberto Freyre: região, tradição, trópico e outras aproximações. 1ed.Rio de Janeiro: Fundação Miguel de Cervantes, 2013, v. , p. 40-56.

_______. O Movimento Armorial. In: Revista Pernambucana de Desenvolvimento. Recife: Condepe, 1974.

EL TRONCO LINGUÍSTICO SEMÍTICO


Gersely Sales e Glaucia Ferreira

Surgidas con los albores de la civilización, las lenguas semíticas mantuvieron en el curso de la historia un extraordinario vigor y vieron nacer en su seno tres de las grandes religiones monoteístas: judaísmo, cristianismo e islamismo.


·      Principales pueblos semitas

Muchas lenguas constituyen la familia semítica, como los siguientes: acadio, ugarítico, fenicio, hebreo, arameo, árabe, etíope, egipcio, copto guanche, somalí, Gala, Afar, Saho, Hausa, asirios y caldeos.

  
·      Algunas características de las lenguas semitas

-       Las palabras se hallan formadas por una raíz compuesta exclusivamente de consonantes.
-       Pueden construirse tanto formas verbales como nominales.
-       En las lenguas semíticas las consonantes ocupan el lugar preeminente y determinan el léxico, en tanto que las vocales, representadas en la escritura por medio de signos secundarios, afectan a aspectos gramaticales.
-       El sistema fonológico se caracteriza, por la primacía de las consonantes, y dentro de su riqueza general destaca el gran número de fonemas consonánticos cuyo punto de articulación se localiza en el velo del paladar y en la faringe.
-       La métrica es muy rígida y, por sus peculiaridades léxicas y verbales.
-       Las lenguas semíticas poseen una singular capacidad poética para la creación de metáforas.