segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Comentário sobre Tabacaria

Nascido em 13 de Junho de 1888 em Lisboa, o poeta português modernista Fernando António Nogueira Pessoa veio a falecer aos 47 anos, em 30 de Novembro de 1935. Dentre seus heterônimos, o de Álvaro de Campos, futurista, destaca-se com a obra portuguesa mais conhecida, por sua complexidade psicológica, o poemaTabacaria escrito em 1928.
Este retrata a sensação do ser humano que possui a sensibilidade de um bom observador, analisando de forma peculiar e crítica a si mesmo, e a tudo o que está em volta, tentando vivê-las intensamente; os pensamentos que lhe vêm à mente quando se diz respeito à eternidade que se torna cada vez mais próxima do indivíduo; a busca de soluções para problemas complexos, visto que é inato do ser humano a capacidade de construir enunciados solucionando-os.
O poema utiliza de um recurso estilístico, a figura de linguagem chamada oxímoro, que por definição é a “junção de dois enunciados opostos numa única expressão, criando assim, uma nova possibilidade de interpretação”; e este recurso da língua, brinca o jogo do irracional transmitindo seriedade ao leitor.
Dois momentos essenciais valem salientar: o primeiro é a sensação de repugnância irônica de algo que na verdade é desejado, estando assim satirizando a alegria da criança no trecho (¹), quando desejava ter a mesma alegria e naturalidade que ela possuía; o outro momento, no trecho (²), é quando se acende o cigarro, e tudo passa a fluir naturalmente, como um filme da vida real, mas visto em tela gigante como flashs.

(¹)
“(Come chocolates, pequena; Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)”

(²)
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.

A metafísica (sentido/finalidade da realidade) e o oxímoro (o contraditório ao seu termo contrário ou os sinônimos usuais em antônimos) presentes em todo o texto são características intrínsecas de Fernando Pessoa, que tem uma arte essencialmente dramática refletindo essa realidade no diálogo interno do autor.

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